Essa bondade no coração humano...

Meu contato com o mundo das artes sempre teve um caráter altamente teológico, não sei porquê. Desde as óperas no Teatro Municipal ou concertos diversos, tanto lá quanto em outras salas de música de câmara de nossa cidade e até cinema e exposições de pintura ou de outras naturezas, sempre me encontro refletindo sobre o contato do ser humano com Deus e com seu próximo nestas horas. Do fim da tarde até agora tive chance de assistir a três filmes que me fazem refletir muito sobre a condição humana. Todos três são versões cinematográficas de fatos da vida real.

Um deles se chama "A dádiva de Nicholas", um menino de 7 anos que morre num atentado criminoso fora de seu país e, depois de diagnosticada a morte cerebral, seus pais têm que tomar a difícil decisão de doar seus órgãos, numa terra estranha, e isso acaba mexendo com toda a Itália, o país que na época tinha a menor taxa de doação de órgãos de toda a Europa.

O segundo se chama "O gigante da planície", produção canadense, contando a história de Tommy Douglas, um pastor protestante com um forte ardor por justiça social, que depois abandonou o pastorado para se tornar um político militante por políticas sociais mais justas no seu país. Sofreu toda retaliação dos interesses contrários, ameaças, difamações, mas enfim, sua contribuição tornou-se marco histórico na vida da nação. Ele atuou de 1904 a 1986.

Por fim, um finalzinho da reprise de "Apolo 13", o "fracasso bem-sucedido" da nave que foi avariada no espaço, cuja missão, de "pisar na lua" se transformou num plano de emergência de fazer a tripulação voltar à Terra em segurança.

Três filmes que me mostram a preocupação de um ser humano pela vida do outro, pelo bem- estar do outro, preocupação que se torna heróica quando se reverte em bênção na vida do outro, aquele que é ajudado.

A bondade no coração humano... ela está aqui dentro, aí dentro de você, ainda que nosso mundo tenha se tornado tão deformado, tão repleto de valores egoístas e narcisistas, ela ainda nos leva às lágrimas e nos contorce as entranhas, nos move com compaixão.

Tive um tio que foi um homem muito generoso. Uma pessoa humilde de recursos materiais, mas sua casa vivia de portas abertas para qualquer pessoa que necessitasse de sua ajuda. Quando me mudei de SP para o RJ tive oportunidade de residir na casa de sua família durante uns 2 meses. Pude presenciar como as pessoas algumas vezes abusavam de sua boa-vontade. Aquilo me incomodava muito. Um belo dia perguntei a ele: tio, não te faz mal quando essas pessoas que o senhor ajuda "cospem no prato que comeram"? Como é que o senhor lida com esta ingratidão? Ele falou algo que nunca esqueci: filha, se a pessoa vai cuspir no prato que comeu isso não é da minha conta, mas se está ao meu alcance fazer o bem e eu não faço, isso sim, diante de Deus, eu vou dar conta.

As vezes medito no texto bíblico que diz "as misericórdias do Senhor são a causa de não sermos consumidos", ou então aquele outro "se não fora o Senhor, que esteve ao nosso lado quando os homens se levantaram contra nós" e fico pensando: o quê Ele vê em nós para sentir esta misericórdia?

No meu imaginário, Seu amor por nós é tão grande que O faz olhar para nós a procura de algo bom, e quando Ele se encontra com a bondade do coração de algum ser humano, parece que ela suplanta a escuridão dos pecados dos demais. Imagino que Deus encontra motivos para continuar tendo esperança em nós, e penso que nestas horas ele dá um sorriso! Ele libera seu perdão e suas misericórdias são derramadas, por isso experimentamos libertação e alívio, consolo na tribulação, e nas palavras de um amigo: "paz no meio do caos". Esse é o meu Deus, de amor incompreensível! Graça inexplicável, porque merecer, nós não merecemos!

"Mas bendito seja o Senhor, que não nos deu por presa aos seus dentes
o laço se quebrou e como pássaro assim, escapamos!"

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