Ética dos relacionamentos sob as lentes dos estudos de gênero

Esse é o texto da aula inaugural do curso de "Bíblia e Gênero" proferido em 30/03/2008 (reapresentado em 13/04/2008 na 2a.IB de Petrópolis).


Profa.Lília Dias Marianno[1]

1. Enfoque de gênero: um jeito diferente de ler a Bíblia

Desde o início da década de 90, quando o Projeto Genoma começou a intensificar as pesquisas sobre o código genético dos seres humanos, muitas informações novas sobre diferenças de gênero estão chegando ao nosso conhecimento diariamente. Isto porque pesquisadores do campo da medicina, da biologia, antropologia, psicologia e tantos outros campos de conhecimento estão conseguindo mapear melhor o funcionamento do cérebro humano.
Tal mapeamento presta grande ajuda à empresas, por exemplo, quando se trata de aproveitamento do potencial de seus empregados. Equipes desportivas também já se utilizam bastante destes resultados. Por exemplo, já é estatisticamente comprovado que mulheres dirigem de forma mais prudente que os homens (até as seguradoras comprovam isso pelo preço mais barato dos seguros para mulheres), mas mulheres manobram muito pior! (Há exceções!) Tudo isso por causa de diferenças nas visões periféricas de homens e mulheres. Homens e mulheres simplesmente enxergam diferente.
Também já está antropologicamente explicado porque uma mulher tem prazer em ficar horas num shopping mesmo que não compre nada (HÁ EXCEÇÕES! O meu caso é um), só contemplando vitrines enquanto a tolerância máxima de um homem em esperar uma mulher escolher um par de sapatos numa loja é de 30 minutos! Os mesmos estudos também explicam porque os homens têm tanto interesse em futebol (HÁ EXCEÇÕES) e precisam passar um momento quase religioso do período após a jornada de trabalho com o controle remoto na mão, mudando os canais de TV de minuto em minuto, sem qualquer lógica entre um programa e outro.
Neurologicamente já se descobriu porque as meninas aprendem a falar antes dos meninos, e porque normalmente se saem melhor nas disciplinas ligadas à comunicação e escrita enquanto os meninos superam nas habilidades técnicas e matemáticas. Os mesmos estudos também explicam porque as mulheres falam tanto e os homens muitas vezes não respondem a todas as perguntas que elas lhe fazem, pois homens falam para transmitir informação, já mulheres falam para se conectar com a outra pessoa. Um cérebro feminino produz facilmente entre 6 a 8 mil palavras por dia enquanto o cérebro masculino produz de 2 a 4 mil. Um homem já esgotou a quota diária na metade do dia enquanto a mulher ainda tem umas 5000 palavras pra produzir!
Também já se explica porque um banheiro feminino é um verdadeiro “espaço para relacionamento”, produzindo um falatório que se houve do lado de fora. Ali se fala de tudo: dicas de regime, dor de cabeça, filho na escola, cor bonita do batom, roupas que nos engordam...
Conversa entre mulheres é algo indecifrável para muitos homens. Mulheres conseguem mudar de assunto 5 vezes em 4 minutos, sem perder o fio da meada, e todas se entendem. E mais: conseguem conversar dois ou 3 assuntos ao mesmo tempo! Isso porque durante a comunicação a mulher usa os dois lados do cérebro e a intensidade de atividade cerebral num desses “falatórios femininos” é intensa e atinge todo o cérebro. Já os homens são mais objetivos e sucintos em suas colocações porque não utilizam os dois hemisférios do cérebro na comunicação oral, apenas um deles.
Se a ciência está descobrindo tanta coisa sobre o chamado “sexo dos cérebros”, que nos possibilita entender as diferenças de gênero e a lidar com elas de forma mais amadurecida e tranqüila, isso nos traz um grande desafio teológico: decifrar também o DNA dos relacionamentos humanos dentro do organismo que é a Igreja.
A hermenêutica de gênero implica em compreender as diferenças de gênero no processo de interpretação bíblica, respeitá-las e trazer para a vida da igreja uma proposta de relacionamentos interpessoais mais ética, mais coerente, mais humanizante e, principalmente, mais bíblica para o corpo de Cristo – a Igreja.
Esta proposta tem uma força maior para confrontar a cultura contemporânea, pois ao trabalhar na interpretação bíblica com temas como: corporeidade, afetividade, direitos humanos e sexualidade, faz uso daquilo que a ciência tem descoberto recentemente, proporcionando, sem dúvida, um campo, gigantesco, cheio de riquezas, cheio de novas possibilidades, cujos caminhos mal começaram a ser trilhados.

2. Corporeidade: a experiência de leitura da Bíblia através do próprio corpo

Os pressupostos existenciais de homens e mulheres e as diferenças de cosmovisão (visão do mundo) referentes aos diferentes gêneros não apenas afetam os leitores e leitoras do texto bíblico, mas influenciaram os redatores do texto bíblico e, inevitavelmente, interferiram na história vivenciada pelos seus personagens.
Uma das coisas que já ficou bastante definida nos estudos de hermenêutica de gênero é que as mulheres envolvem todo o corpo nos processos interpretativos e seu ponto de partida é sempre seu próprio cotidiano. As mulheres lêem situações com o corpo, lêem pessoas com o corpo e compreendem textos com o corpo. Tanto que já está definido: corporeidade é um critério de interpretação bíblica típico de mulheres, mas também precisa ser vivenciado por homens, pois os homens também possuem corpos, embora suas relações com seus corpos sejam bastante diferentes da interação das mulheres com seus próprios corpos. Se nós, cristãos, não entendermos nosso corpo, dificilmente entenderemos como o corpo de Cristo pode e deve funcionar de fato.
Por exemplo. A mulher que tinha o fluxo de sangue, a pecadora que ungiu os pés de Jesus, a mulher samaritana, a filha de Jairo, a sogra de Pedro, as mulheres no sepulcro no dia da ressurreição... quantas experiências teológicas de mulheres narradas no NT envolvem o corpo, o alimento do corpo, a cura do corpo e o cuidado do corpo!
Mas não ficamos apenas nas mulheres: a tentação de Jesus no deserto (converter pedras em pães), é um ataque sobre o estômago, e nós sabemos o quanto os homens são impacientes quando estão com fome! A experiência de Zaqueu é paradigmática em envolver o corpo do homem na busca por Jesus. Também o centurião romano que pede a cura para seu servo, Pedro andando por cima do mar, Tomé tocando o lado de Jesus, Jesus em João 21, no episódio em que Pedro voltou a pescar, a própria disputa entre os irmãos Tiago e João, sobre onde ficará “o corpo” de cada um deles no céu, ...tantos homens também se envolveram com Jesus e suas experiências passaaram pelo corpo.Este corpo precisa ser re-significado em nossa vida cristã.
Mas nosso corpo é templo do Espírito. Se recuperarmos um pouco da percepção judaica sobre o corpo, vamos entender o grande valor deste Templo para o senhorio de Cristo e para a habitação do Espírito. Isso nos conduzirá a um entendimento mais profundo, e muito mais sério sobre uma sexualidade bíblica, uma mordomia do corpo apropriada, através do descanso, do exercício físico, da alimentação e tanta coisa sobre as quais, nós cristãos acabamos sendo negligentes.
O Novo Testamento é bastante impregnado de uma visão neo-platônica de que o corpo é matéria, por isso é mau. A alma é espiritual, por isso é boa. Paulo, por exemplo, mostra isso com muita nitidez quando diz: “quem me salvará deste corpo desta morte?” Paulo está impregnado com este neo-platonismo. Mas se o corpo é ruim, porque justamente ele foi escolhido para ser o templo do Espírito?
Os judeus entendem alma e corpo dentro de uma visão unificada, ambos sendo bons, para onde vai a alma também vai o corpo: o sheol, e é este corpo que vai ressuscitar no último dia. Ambos são criação de Deus e nossa alma, ou nefesh (garganta), é o fôlego vivente, o ar que passa na garganta deste ser humano, homem ou mulher, cujo corpo foi criado imagem e semelhança de Deus, pois o texto de Gn 1 diz que Ele nos fez como estátua dele!
Como resgatar, na nossa vida cristã, o valor do corpo sem se tornar hedonista, vivendo somente para o próprio prazer deste corpo? Como cuidar bem deste corpo sem cultuá-lo? Como ser um bom mordomo deste corpo, respeitando seus limites e resistências para que ele mesmo possa ser mais útil no Reino e uma testemunha mais eficiente da graça e da misericórdia do nosso Deus? Como não extrapolarmos limites de respeito, não apenas do nosso corpo, mas também do corpo de nossos irmãos em Cristo, de nossos cônjuges, nossos filhos, nossos parentes mais velhos e mais novos. Como este corpo pode glorificar a Cristo numa perspectiva mais dinâmica? Como entender o significado da expressão: igreja – corpo de Cristo, sendo meu corpo o templo do Espírito Santo, sendo o Espírito Santo, o próprio Deus habitando em meu corpo?

3. Homens e mulheres redescobrindo-se no texto bíblico

Um dos caminhos que temos em mãos é este: reler a Bíblia, voltar a antigos textos, nunca plenamente explorados, pois a Bíblia sempre tem algo novo a dizer sobre antigas histórias. É retornar àqueles textos incômodos e desconfortáveis, que nos deixam constrangidos quando os lemos. Textos que nos trazem indignação e, por que não dizer, irritação?
É redescobrir o corpo dos homens e das mulheres no Antigo Testamento, justamente pela visão espiritualizada do corpo que o AT nos fornece. Principalmente cavar um poço nestas histórias e não nos contentarmos enquanto uma fonte de água viva não tenha brotado dali. Uma fonte que vivificará o espírito de cada um de nós e que matará nossa sede, ao invés de uma letra que matará o corpo.
Nossa proposta foi estudar os textos complicados do AT numa perspectiva de gênero, relendo estes textos através dos nossos corpos, nos colocando na pele dos personagens bíblicos tentando entender deles aquilo que a interpretação tradicional ainda deixou sem ser resolvida no texto. Algumas pessoas comentaram que o enfoque da autora tinha tendências feministas, mas não tinha como ser de outro jeito, pois a autora é mulher, ela olhou para os textos bíblicos como mulheres olham para o texto naturalmente, a partir de seu corpo e seu cotidiano.
Nossos corpos são produtores de comportamento, e comportamento resulta de valores éticos entranhados nas pessoas. Re-estudar estas relações corporais e espirituais, implica em re-trabalhar a ética bíblica que tem ficado esquecida nos afazeres da vida, nos pequenos detalhes das relações entre pais e mães e seus filhos e filhas, é confrontar as falhas nos relacionamentos entre cônjuges, entre noivos, entre namorados, entre irmãos de sangue, irmãos em Cristo, é voltar a viver a dimensão de corpo de Cristo dentro de casa, dentro do trabalho, no ambiente escolar ou universitário, é abraçar o difícil desafio de ser verdadeiramente Cristão neste tempo de pós modernidade em qualquer ambiente em que estejamos.
Vamos olhar novamente aquele mapa (SLIDE 1). Este é um ângulo da Palestina que a nós, aqui no Brasil, só é possível enxergar através das lentes de um satélite. Jamais teríamos como enxergar a Palestina dessa forma se não fossem estas engrenagens enormes que estão circulando no espaço.
Essa é a proposta: passar para o lado de lá, enxergar o texto do outro lado, entrar “na pele” de um personagem que sempre foi esquecido ou negligenciado, resgatar a voz dessa gente que sempre ficou silenciada. Por exemplo: alguma vez já ouvimos um sermão sobre a filha de Jefté, a partir da perspectiva da filha? Ou de Sansão e Dalila, no qual Dalila é quem tem o direito de falar? E se ela pudesse falar, o que ela diria sobre Sansão? Já tentamos ficar petrificados juntamente com a mulher de Ló? E Ismael, por que ele é tão silencioso no texto bíblico? Será que Ismael não sentiu nada, não tinha nada a falar?
Nossa leitura bíblica tem se tornado pouco ousada e conformada com a repetição. Acredito que muitos poucos entre nós, algum dia tentaram ouvir a voz de Ismael em Gn 21. O texto bíblico é pra ser lido e na leitura, deve ser confrontado, conferido com a graça e a misericórdia do Deus que enviou seu filho para nos salvar. Não é pecado suspeitar das interpretações que nos mostram um Deus tão diferente deste que tanto amou o mundo.
Temos que re-ler o texto bíblico e algumas vezes até desconstruir alguns de nossos heróis, pois perceberemos que eles foram tão humanos e falhos quanto qualquer um de nós. E o que nós conseguimos aprender com os erros deles? Esse foi um problema, as pessoas tinham um Abraão e um José tão beatificados em suas mentes que, quando o lado humano deles veio à tona, acabou soando como uma grande heresia. Não podemos esquecer que os personagens bíblicos também foram seres humanos e que perfeito, na Bíblia, somente Jesus conseguiu ser. Ler a Bíblia numa perspectiva de gênero nos leva a fazer perguntas diferentes ao texto bíblico:
Quais eram as motivações de Sara?
Qual era o verdadeiro relacionamento entre Ismael e Isaque?
Despedir a serva com o filho significava abandoná-los “sem direito à pensão”?
Será que Abraão não confundiu o despedir com o “abandonar”?
Como essas questões podem confrontar nossa ética hoje?
Quantas vezes permitimos que o ciúme entre os membros da família separe irmãos?
Por que nos sentimos no direito de oprimir o nosso semelhante quando nos sentimos ameaçados por ele?
Quantas vezes somos tentados a “puxar-o-tapete” de alguém para nos favorecermos ou nos beneficiarmos?
Quantas vezes usamos a palavra de Deus para fugir da nossa responsabilidade com o próximo?
Este trimestre de Palavra e Vida mostrou um jeito novo de ler a Bíblia, mas nem por isso menos sério, menos ético, menos cristão. Ao contrário, valores há muito esquecidos ou ignorados voltaram a fazer parte de nossas discussões. Que entendamos o propósito que é o de resgatar o valor do ser humano na Bíblia e na dinâmica da fé cristã
Quanto do valor do ser humano pode ganhar novo significado através de uma leitura bíblica que re-descubra o importante papel do corpo do crente no corpo de Cristo? Que a gente encare o desafio!

[1] Teóloga biblista, mestre em Teologia (Antigo Testamento) pelo Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil, Mestre em Ciências da Religião (Exegese Bíblica) pela Universidade Metodista de São Paulo (UMESP), escritora e assessora das revistas Estudos Bíblicos e RIBLA (Revista de Interpretação Bíblica Latino-Americana), ambas publicadas pela Editora Vozes, e também das revistas Incertezas (Faculdade Teológica Evangélica do RJ), Mandrágora (Núcleo de Estudos Teológicos da Mulher na América Latina) e Palavra e Vida (Convenção Batista Fluminense). É docente no STBSB, CIEM, FATERJ, FATEP e na UCAM. Além da docência teológica, que exerce desde 1998, atualmente também se dedica a construção de um projeto doutoral sobre sexualidade e espiritualidade a ser desenvolvido na área de Antropologia no IFICS-UFRJ. Blog com mais textos sobre gênero e Bíblia: http://www.relendoabiblia.blogspot.com/.

Comentários

Marcos Vieira disse…
Prezada Lília,
novamente, parabéns pelo texto. Seus privilegiados ouvintes devem ter refletido bastante. Uma teologia do corpo vem sendo proposta já a algum tempo. O Rubem Alves em seu livro "Creio na Ressurreição do Corpo" já notava a centralidade do corpo nos fundamentos da fé cristã, presente no credo apostólico. Contrariando sua época, Gregório de Nissa considerava o corpo como também fazendo parte da Imago Dei, na medida em que o mesmo expressa a alma. E por aí vai... O que levou a igreja cristã a negar o corpo, tentando anulá-lo, creio ser uma pesquisa interessante. Já pesquisou por esse viés histórico-teológico? Uma outra questão: será que ao invés de feminista, podemos falar em teologia feminina? Gostaria de conhecer sua opinião. Apesar da oposição (lida nas entrelinhas), acredito que há muitos sendo abençoado pelo seu labor teológico. O Senhor te preserve. Marcos.
Unknown disse…
Olá Lilia,
Meu nome é Isaltino e sou de Recife. Este mês iniciei o mestrado em ciências da religião, e, como percebi, vc já é uma especialista na área. Se possível gostaria de indicações suas de leitura para aprofundamento nesta área.
Desde já agradeço a atenção dispensada.
Deus a abençoe!
isaltinoluna@hotmail.com
Unknown disse…
olá Marcos

eu to numa correria aqui, recebo as postagens de vcs mas está difícil conciliar o tempo. Em todo caso, eu preferia, sinceramente, o termo teologia feminina, assim como penso que o viés de masculinidade deveria se chamar teologia masculina.Nunca estudei a origem destas nomenclaturas bem como a negação do corpo. Teria que fazer um aprofundamento histórico-teológico pelas vias da sistemática, que não é minha "praia" e nem me fascina, mas Bíblia sim, isso me encanta! E de fato, há alguma resistência, ainda não enfrentei uma oposição frontal, ela é velada, quem a faz não tem coragem de fazer na frente pq os alunos me querem bem e muitas vezes compram minha briga. Eu penso que é uma longa semeadura, muitos de nós não veremos seus frutos, mas quem dá o crescimento é o Senhor, e ter semeado para Ele dar o crescimento, por si só, é uma honra!
Meu abraço e obrigada pelo post.
Unknown disse…
Olá Isaltino!
Um pessoal que tem publicado muito nesta área é o povo da Universidade FEderal em Juiz de Fora, que tem o único programa de ciências da religião em universidade pública do país, todos os demais são em instituições privadas. Procure publicações do Faustino Teixeira, Pierruci. Entra no site do programa de pós em CR de lá, veja o nome dos docentes e pesquise no currículo lattes de cada um com a lista de publicações (o link já vem no próprio site do programa). Esse pessoal tem publicado muito mais coisa q o pessoal da PUC e da UMESP. A Paulinas também tem bons livros na área, na loja virtual pela net vc consegue o catálogo. Meu abraço.
Anônimo disse…
Gary Smalley

Somos designados para relacionamentos mais muitas vezes tornam-se inamistosos e nos machucam. Neste paradigma Gary Smalley nos revela o DNA dos relacionamentos, somos feitos para três bons relacionamentos - com Deus, com os outros e com nós mesmos e todos os relacionamentos nos envolve escolhas. O autor expõe que quase todos os conflitos nos relacionamentos são caracterizados por uma dança destrutiva. Porém, ele oferece cinco novos passos da dança que vão revolucionar seus relacionamentos no casamento, familia, amizade e no trabalho.

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