Descanso, silêncio e sussurro


Sempre fui questionadora. Ultimamente ando mais. Nos meus últimos três anos um dos meus mais sérios questionamentos tem versado sobre o MANDAMENTO DO DESCANSO. Os cristãos, em especial os evangélicos, sofrem de ativismo compulsivo. Eles acham que trabalhando incessantemente e sem descansar estão agradando a Deus. Vivem como se fosse pecado parar, repousar, cessar a atividade. Obrigamos nosso corpo (o Templo do Espírito Santo) a viver um ritmo para o qual Deus não o criou. Ficamos doentes, nosso sono se agita, as doenças psicossomáticas invadem o Templo, perdemos o discernimento e oferecemos a Deus um coração ardente revestido de um corpo arrebentado, mal cuidado, maltratado, desgastado, irritado, saturado.  O mais difícil é convencer um cristão fervoroso de que isso  não é oferta de primícia como ele pensa, ao contrário, é oferta de quinta categoria..

O ser humano entra em atividade frenética, num ritmo de locomotiva desembestada, suicida, porque tem medo de parar. Tem medo de ficar em silêncio, de ouvir o som do próprio pensamento. Não por acaso há tantos cristãos que reclamam não ouvir a voz de Deus. Sem orientação direta de Deus, fazem uso de mulheres e homens de oração aqui e ali, como se o poder que flui da vida desses santos homens e mulheres de Deus fosse maior do que o poder do próprio Deus. Houve uma época ( mais de 20 anos atrás) que eu também buscava profetas, mas depois que discerni a terna e doce voz do meu Senhor enchendo o Templo, nunca mais eu quis saber de profetas.

Ouvir a voz dele me leva para um jardim de paz e segurança, com grama verdinha, céu azul brilhante e nuvens de algodão. Não tem coisa nesta Terra que se compare a ser conduzida para este recanto de paz,onde a voz dEle me leva. Aquela voz ...  não é bem uma "voz", é um cochicho suave, claro e gentil, um sussurro amoroso por mais dura que seja a verdade que me comunique. Eu sei que é Ele porque nada me traz tamanha paz. Mas para ouvir esse sussurro eu tenho que aprender a silenciar. E para aprender a silenciar, sou obrigada  a pausar. Ele é muito cavalheiro e não fala enquanto estou agitada. Espera que eu sossegue para ouvi-lo. É por isso que eu adoro parar. Sempre que  silencio eu escuto aquele sussurro cheio de ternura, interessado no meu bem e na minha alegria falando comigo outra vez.

Uma pena que tem gente que não consegue parar. Parar lhes é  angustiante. Quando se para, fica-se obrigado a refletir na própria vida, no rumo que estamos tomando. Para muita gente isso é simplesmente apavorante.  Nessa vida de espiritualidade contemplativa uma das coisas que tenho aprendido e aperfeiçoado é dedicar o descanso como oferta ao Senhor. O dia do Senhor para o meu Senhor. No último ano e meio passo o domingo inteiro nos "átrios dEle", não trabalhando, mas ficando sozinha com Ele. Gosto da igreja cheia, mas prefiro mil vezes o tabernáculo vazio, onde só eu e Ele conversamos.

Ontem, domingo, escrevi esta "poesia" para celebrar estes doces momentos de intimidade.
Desfrute!

Acordo ansiosa, eufórica: é domingo!
Vou passar o dia inteiro com Jesus.
Chego ao tabernáculo
e me apresento para o serviço
cantando, ensinando ou orando.

Após o culto matinal me alimento.
Rejeito convites de amigos.
Tu és mais importante.
Conversar com eles me tira tempo contigo.

Desligo telefone e internet.
Simplesmente desconecto.
Ninguém vai interromper nosso momento.
e conversamos durante o almoço.

Depois do almoço procuro um canto sossegado.
Me acompanham músicas e a Bíblia.
Às vezes a agenda com tuas últimas orientações.

Gratidão invade minha alma e começo a chorar
Reconheço teu cuidado, teu fôlego que me sustenta,
e tua misericórdia que se renovou sobre mim 
quando o dia alvoreceu.
Começo a ler Tua Palavra e 
Tuas declarações de amor me saltam os olhos.

Me aconchego no Teu sussurro
Lembro nossas conversas recentes
Me emociono de novo.
Recordar-te me traz calor.
Sou abraçada pela Tua graça
Embalada pela Tua ternura.
Em silêncio desfruto Tua visitação.
Meu coração, em reverência
quase nem ousa bater.


Sinto o sono do bebê ninado
Por ti beijado e acariciado.
Adormeço suavemente.
Lá bem longe escuto a canção
que me conduziu para tão perto de ti.

Meu dia é todo teu.
Mas esta é a hora de dormir no teu peito.
Um tempo depois Tu me despertas. 
Novamente é tempo de servir.
Sinto-me completamente abastecida.
Uma restauração sobrenatural possuiu meu corpo.
Uma energia vibrante me ocupa o coração.
A noite chegou, é tempo de celebração.

O culto acabou, que pena.
Já sinto saudade da tarde gostosa
Do nosso tempo exclusivo.
De tua companhia adorável
De tua visitação inconfundível.

Meu descanso é teu, somente teu.
E quando durmo ninada por Ti
todo o cansaço sai  
toda tristeza se vai.


Comentários

Olá Lilia!
Muito boa sua meditação, me fez lembrar da passagem em IRs.19:11-12 quando Elias escondeu-se do Senhor, e Ele veio ao profeta numa voz mansa e delicada. Precisamos escutar a voz do Senhor nesses ultimos dias, é imprescindível, e somente com muito discernimento e sensibilidade saberemos o que Ele quer. Parabéns pelo Blog. Caso queira visitar o meu: http://www.paocomazeite.blogspot.com Não tenho divulgado, preciso, ainda nem tenho nenhum seguidor como vc, mas escrevo pois me faz bem. Fique na Paz!
Lília Marianno disse…
OI Márcio, legal sua contribuição aqui. Escrever é terapêutico. Na poesia encontrei um jeito de cortejar a realidade ou transformar a dor em beleza. Vou olhar o teu blog! Grande abraço.

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