Pensamentos que se desprendem, acidentalmente, quer dizer... nem sempre!



Esses dias eu e Claudio Carvalhaes tomamos um "chá" virtual.
Adoro conversar com esse amigão, é muito raro, mas sempre muito divertido.
Claudio é teólogo, PhD pela Columbia, especialista em liturgia, arte e performance.
Tem um blog/portal lindo que está para entrar no ar, vou colocar o endereço aqui quando estiver pronto.
Ele está nos EUA há bastante tempo, mais recentemente como professor de uma faculdade presbiteriana em Kentucky, e eu aqui no RJ.
Se vc quiser um diálogo sobre arte e pós-modernidade na religião, esse é o cara!
A gente conversa pouco, e se vê menos ainda (uma lástima para uma amizade como a nossa!), mas sempre que a gente conversa um rastro de coisa boa  fica por aqui na memória, estimulando novos textos, poesias e reflexões.

Hoje resolvi transformar em texto um pedaço da conversa da semana passada, fragmentos do nosso digitar convulsivo no MSN. Quem sabe ajuda alguém!
Então, desfrutem!


Reflexos de mim no chá do meu amigo.

É engraçada, essa coisa de relacionamentos afetivos.
Todo mundo quer ter um, pessoas centradas querem ter um, desde que não "desarrume a casa", desde que não tire a vida da ordem, não tire nosso mundo do eixo, não desestabilize a rotação dele, nem seqüestre o equilíbrio e a paz conquistados. E isso é possível?

De alguma forma me sinto muito identificada neste espaço de "suspensão confortável". Não tenho um relacionamento específico com alguém, mas fico  naquela "antes só do que mal acompanhada". Claro, esperando que alguém tenha a coragem de ser ousado e insistir em entrar no meu mundo, ansioso por ser explorado... rsrs (essas contradições da vida!)
Claro que será bem vindo!

Aí o Claudio falou: isso é bom, mas também é ruim!
Pois é...

Mas as pessoas hoje em dia andam construindo relações afetivas de um jeito tão doentio, atravessado, obcecado, estonteante, desequilibrado e esquisofrênico que eu, sinceramente, muitas vezes perco a coragem de me aproximar e arriscar meu equilíbrio numa relação que tem todo potencial para ser uma grande "dor de cabeça"

É difícil encontrar alguém que ainda se doe por amor e que não confunda amor com paixão. Que entenda que paixão é incontrolável, obcecada e devastadora, mas o amor é que traz paz, serenidade e segurança. Entenda que amor não surge num estalo, mas vai sendo construído na medida que a intimidade gostosamente vai chegando...

Amor não transtorna o equilíbrio do outro, mas oferece amparo e segurança, amor soma, não divide, amor não desestabiliza, mas aquieta. Amor deixa o outro respirar aquilo que ele mesmo é, sem querer mudar, sem forçar a barra.

Eu tenho tanto orgulho de ter encontrado meu ponto de equilíbrio, depois de um relacionamento devastador, estou tão confortável aqui, feliz, serena, fazendo minhas mil e duzentas coisas de uma vez, mas são minhas coisas, rapidamente tumultuam, rapidamente se acertam também.

Lamentavelmente, a gente vai se acostumando a estar só, a não ter ninguém por perto, quando tem que contar com alguém, a só ter a si mesmo e quando precisa de ajuda, só encontra a si por perto. Isso não é bom, com certeza, ainda mais nesta fase em que os filhos estão batendo asas, loucos para voar do ninho...

Mas dói menos que a rejeição, dói menos que o desapontamento do desencontro, dói menos que a sensação de solidão, já que estar sozinho não significa necessariamente ser solitário, dói menos do que o se entregar e não ter reciprocidade...

Nunca se conhece o outro plenamente, mas conseguir decifrar parte do mistério que vai na outra mente, que se esconde atrás do olhar, dentro do coração, e se lançar para atender aquele grito mudo que está ali, que clama por aceitação e compreensão, sem precisar dizer palavras, puxa, isso deve-se querer sentir!

Devia haver mais gente acreditando no amor. O problema é que as pessoas estão se tornando especialistas em estabelecer com o ser amado uma relação comensal. Ou, no mínimo, utilitarista. Nunca se pergunta, num relacionamento: "o que eu tenho para doar", mas sim "o que eu posso ganhar com isso". Quando foi que a humanidade se tornou tão frívola desse jeito? Acho que sempre foi e eu, na minha mente infantil, tantas vezes, não percebi isso antes...

Ser inteiro é se perceber incompleto, por mais antagônica que seja esta percepção.
Mas ser incompleto não significa ser mutilado, significa perceber que se precisa de alguém, alguém que faça as ideias ventilarem, o sorriso se abrir, que faça a gente se olhar no espelho, dando um retoque a mais no visual pensando que aquele alguém vai gostar da novidade...

Eu me disciplino para não entrar nesta onda individualista dos seres humanos pós-modernistas. Mas me sinto muito bem quando me dou ao luxo de fazer algumas coisas só para mim (anos atrás isso seria impensável!). Altruísmo obsessivo também é falta de amor próprio, auto estima-baixa!  E sabe o quê? Sinto-me mais íntegra, mais bela, por dentro e por fora, mais curada, mais saudável... Talvez eu só esteja conseguindo me amar mais do que nunca me amei...

Tenho aprendido de um jeito muito próprio que os outros nunca serão como nós.
Precisamos aprender a amar o outro com todas as suas limitações, sem esperar medida igual,
Afinal, eu também tenho limites, muitos, aliás, cada dia que passa descubro um limite novo!
O outro é o outro, o outro não sou eu.
Amor de verdade entende isso e  fica feliz por simplesmente ser o que é: amor.

Se um coração não encontra um par para devotar tudo isso,
Ele deve aprender a não depender só de uma pessoa para liberar tal devoção.
Ele precisa aprender a se espalhar, se aspergir em tudo que faz e por onde se for passando.
O mundo é grande demais para tanto amor ficar reservado para uma pessoa só.

Assim estou, assim vou.
Vôo, navego, corro, velejo...
Vou com o vento...
Quando quero, paro e aquieto,
Quando canso, rodamoinho e parto,
Livre ... sem dor!
Não carrego arrependimentos na alma,
Talvez porque tudo que fiz, eu fiz amando,
Amando tão intensamente que valeu a pena, pelo simples fato de amar tanto.
Amando a vida, amando as pessoas,
Amando as coisas que faço, amando escrever,
Amando o dar, o doar-se,
Mas amando também o receber, o ser acolhida.
Amando cuidar, de mim, dos meus, do próximo, da criação...
Amando a Deus, acima de tudo, acima de todos.
Ele de novo: Deus no centro de tudo!
Está aí o segredo de tudo isso.

Vez ou outra tenho sensação que, depois de um tempo na vida a gente só fala o óbvio,
Mas é um óbvio que parece tão novo...
Aí da vontade de publicar!

Ame, acima de tudo!
Viva amando!
Deus acima de todos e de tudo,
As pessoas serão abençoadas por conta deste amor!

Comentários

Anônimo disse…
lilian , fessora que lindo, quando li essa sua conversa com seu amigo.... fico até vendo vç falar...com palavras tão verdadeira que é sos
mente sua....
bjus
Del

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