Enfie seus dedos aqui neste buraco entre minhas costelas
Neste último domingo nosso pastor pregou sobre o encontro de Tomé com Jesus depois da ressurreição, eu fiquei bastante pensativa sobre alguns detalhes.
Ultimamente muitos estudantes de teologia andam meio perdidos entre a fé e a razão. Ouvi há pouco tempo de uma aluna o seguinte: "ah professora, a gente não quer ficar abalado mas fica". Na ocasião eu repliquei: o que nos abala não são as novas informações sobre uma velha teologia que não tínhamos acesso. O que nos abala é a fragilidade da nossa experiência com Deus.
Nestes momentos o caminho não é questionar o conhecimento novo, o caminho é revisitar nossas experiências fundantes na fé cristã. Afinal, cremos em Deus por causa dos grandes milagres que Ele pode operar ou cremos nele pelo que Ele simplesmente é?
Gosto de imaginar o seguinte: se a Bíblia não relatasse qualquer ato sobrenatural realizado pelas mãos divinas, ainda creríamos nEle com a mesma disposição? Por que somos tão dependentes destas manifestações sobrenaturais para crer? Nós batistas temos tanto orgulho de nossos cultos "racionais", mas nos embolamos tanto nestas horas...
Enfim, voltando ao Tomé, como foi dito no sermão, Tomé não queria viver baseado na experiência dos outros, ele queria suas próprias experiências, seu "chão" teológico tinha que ser concreto, palpável, "pisável". Ele não estava predisposto a crer no relato dos discípulos, queria provar ao vivo e à cores. Tomé era racionalista!
Mas não era positivista! Seu racionalismo o levou a uma experiência concreta, corpórea, de toque, de tato, mas ao chegar neste degrau, ao invés de optar por um positivismo exacerbado, Tomé "volta atrás" e faz uma declaração tão teológica que nem parece ter saído da boca da mesma pessoa: Deus Meu!
O Racionalismo de Tomé o levou a um encontro sagrado com o Deus que em todo tempo andou do seu lado mas ele não conseguia reconhecer! Seu racionalismo o levou a tocar este Deus e por tocar, por ter uma experiência física, fez uma declaração sobrenatural!
Se a gente conseguir traçar em nossos caminhos a lógica da teologia do Tomé, acredito que muitos conflitos entre fé e razão serão diminuídos.
Comentários
Será que as vezes falta um pouco de racionalismo nas igrejas?
Um abraço.
Pr. Flávio - Igreja Batista Jardim São Paulo - Foz do Iguaçu/PR
obrigada pela sua participação aqui!
Eu penso que a gente não é muito hábil em encontrar o ponto de equilíbrio nisso tudo. Da igreja aos seminários, não é um problema apenas da igreja, mas também da academia, ora se vive no extremo do "pura fé" ora no outro extremo da "pura razão", uma teologia que funcione precisa estar equilibrada entre os dois pólos, fazendo as pazes com a razão mas em nenhum momento abrindo mão da fé!São duas grandezas diferentes e que não têm, necessariamente que estar em posição de confrontação, nosso desequilíbrio é que as leva ao confronto. Um abraço.
Eu percebo no público evangélico atual uma forte tendência a vincular a manifestação divina ao "Incrível, fantástico e extraordinário". A fé questionadora, que não se contenta apenas com relatos de "acontecimentos mirabolantes", é taxada de ceticismo e frieza espiritual.
Pessoalmente, eu sempre considerei injusto o tratamento dispensado a Tomé, só porque ele teve a coragem de ser sincero e de expressar a sua dúvida. Precisamos de teólogos, pastores, evangelistas e missionários que resgatem a nossa capacidade de criticar aquilo que nos é apresentado como "voz inquestionável de Deus", pelo simples fato de que não somos infalíveis.
Parabéns pelo blog. Vou adicioná-lo ao meu.
Um grande Abraço,
Marcos Vichi
http://compartilhandopalavras.blogspot.com/
Parabéns pelo blog e pela coragem de propor uma leitura (ou seria uma re-leitura?)da Bíblia, diferente daquela predominante nos arraiais evangélicos do Brasil. Se me permite expressar uma opinião: creio que o ponto de equilibrio entre fé e razão (ou a elaboração de uma teologia que "funcione", como vc disse) só é possível quando eu caminho em direção ao próximo. Teologia é serva da Igreja, do povo. Só se justifica enquanto contribui para dar significado a caminhada humana. E nesse ponto o teólogo deve reconhecer que não existe neutralidade, pois ele também caminha na mesma marcha: Nas alegrias, nas angústias, nas convicções e incertezas, nos medos e nas coragens, enfim, em tudo aquilo que forma essa complexidade do "ser" humano. Penso que a questão não é essencialmente a escolha entre a academia ou o misticismo, mas entre o egoísmo e o amar o próximo. Caminhando junto às pessoas, especialmente as mais necessitadas, as mais frágeis, eu descubro "razões" que não encontraria em toda uma vida de pesquisa e uma dimensão de fé que dificilmente consegueria reunir se andasse somente olhando para o próprio umbigo. Mas como somos falhos nisso! Grande abraço e siga em frente.
Marcos Vieira
Oi Lília,
Paz em Jesus!
Muito interessantes suas observações. Esse ponto de equilíbrio sempre foi um desafio e tanto. Graças a Deus há irmãos com a mente e o espírito envolvidos na oração e na ação.
Gostaria de comentar só uma coisinha que sempre me chama a atenção quando releio o episódio de Tomè. Não está escrito no relato de João que ele tenha tocado o Senhor Jesus. Mas não há dúvida alguma que o seu coração foi tocado pela palavras amorosas do Mestre e hoje nós todos somos tocados pela confissão pessoal de Tomé.
O que você acha?
Abraços,
Wolô
.
De fato, o texto não deixa claro se ele chegou ou não a tocar em Jesus, mas concordo com vc que o coração de Tomé foi tocado, e acredito que o melhor tocar foi o "tocar com os olhos". É o tocar subjetivo que não precisa de tato, mas o próprio ver=compreender é prova + concreta que um toque físico. É o olhar que constata a situação do outro enquanto a situação do outro nos mostra aquilo que somos. Tomé tocou Jesus com este olhar, tomando consciência de quem ele mesmo era, e por se entender melhor, crê. Bem, é por aí... não fechando mas colocando outras idéias.
Obrigada pelo diálogo.