Fôlego

Sabe...
o pulmão espremido,
o pranto retido,
o sofrer percebido,
o grito não emitido?

Sabe...
o amor rejeitado,
o concentrar anulado,
o sono alterado,
o olho marejado,
o respirar sufocado?

Sabe...
o corpo dolorido,
o abraço não dado,
o gemido contido,
o beijo esperado,
o suspiro emitido?

Ontem corri,
Corri até o pulmão doer!
Mil metros me cortaram o respirar
esfaqueando meu peito
como lâminas cruéis.

A tristeza cansa ...
Tristeza cansa,
Eu parei, olhei para o céu,
A lágrima não veio,
Mas eu ouvi o chafariz da praça...

Estirei o corpo,
Abrindo o ventre espremido
Alonguei a alma
Senti o coração partido
e respirei todo ar que pude

Um pouco ... expirei,
Segunda vez... expirei,
Três, quatro, cinco,
E ele foi entrando, o Vento
abrindo brechas entre
os músculos do peito
que contraídas
me oprimiam o pulmão

Ele veio, o Espírito,
Como sopro divino
me fazendo alma vivente
de renovado coração ardente
O sofrer curando
O ar penetrando
O respirar liberando
O fôlego voltando

E a dor...
Foi passando, passando,
passando...

Lília Dias Marianno - 01/11/2009


Comentários

rosangela disse…
Não conhecia este seu lado poético. Que texto maravilhoso. Fala do que vem de dentro. Dentro do peito, por muito tempo guardado. Este texto falou ao meu coração, fez-me pensar em tudo que tenho guardado durante muito tempo. É hora de por para fora. É como uma busca a um tesouro que precisa ser descoberto. Parabéns!!!

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