Ah ... que malvado esse sistema!
O Rubinho fez um comentário muito interessante ao meu texto "Submissão e Subversão". Fui tentar dar uma resposta por lá, mas acabei construindo um texto muito longo, que merecia virar uma nova postagem. Vou tentar fatiar este bolo em duas partes principais que ele elencou, ok? Se quiser ver o comentário completo vá para o texto que citei.
submissão é missão de base [...] será que definições como essa não podem ser consideradas uma suavização [...] do conceito de submissão feminina na igreja por puro concordismo bíblico [...]?
Eu entendo o que você sugere. Tenho que concordar que em alguns casos é isso mesmo que acontece. Mas não em todos, e por incrível que pareça, em alguns casos, as gerações mais antigas dão mais valor à mulher. Neste exemplo do ancião, foi uma coisa tão bonita, pois era um pastor bem velhinho, que demonstrava uma gratidão e um reconhecimento tão grande pela participação das mulheres na estrutura da família e da igreja, e mostrava isso de forma tão sincera que eu achar que a fala dele seria conspiradora seria pura falta de juízo da minha parte.
Recentemente estive no culto de aniversário de 85 anos de idade do Jether Ramalho, um sociólogo importante para o diálogo sobre teologia da libertação nos círculos ecumênicos. Rubem Alves vestiu a toga do clero presbiteriano para pregar no aniversário do Jether! Foi histórico! 67 anos de casados Jether e Lucília! Que tributo lindo ele fez à esposa no dia do seu 85o. aniversário! Dessas cenas que não nos saem da cabeça e fazem a gente lembrar que o amor ainda é possível e o reconhecimento do valor de uma mulher na vida de alguém ainda existe!
Mas concordo que muitas vezes tal discurso é usado com o fim que vc menciona sim.
Será que a situação não é muito mais perversa do que apenas uma questão de auto-estima masculina?
Acontece aqui o mesmo caso. Há muitos casos em que a situação é perversa e tal discurso legitima esta perversidade sim, mas eu não consigo enxergar esta conspiração por todo lado não. Também não acredito na visão simplista de que se trata de questão de auto-estima masculina. Acredito sim, numa revisão de papéis, tanto masculino quanto feminino, dentro da sociedade latina, de matriz cultural totalmente machista, que está passando por uma mutação de velocidade alucinante e nem consegue tomar pé da quantidade de mudanças que ocorrem.
Uns dois anos atrás, estávamos num almoço de confraternização pelo aniversário do meu orientador. Conversa vai, conversa vem, eu falei que estava um pouco desapontada com a reação de algumas colegas. Eu fora nomeada para a comissão temática da revista de estudos de gênero que iria trazer, pela primeira vez em seus 12 anos de existência, uma edição sobre masculinidade. Eu sugeri que nós deixássemos que eles falassem sobre eles mesmos. Uma edição da revista feminista, falando de masculinidade, com todos os articulistas homens. Seria ousado, inovador e solidário. Mas minha sugestão foi reprovada veementemente. Concluí a fala dizendo ao mestre em tom de tristeza: "eu acho que não sou uma feminista muito militante". Meu professor olhou pra mim, deu um sorriso daqueles que só ele sabe dar e falou: "militante você é, você só não é chata". E continuou dando aquele sorriso schwantiano.
Isso me fez pensar em muitas das coisas que acabei desenvolvendo neste texto.
A mulher foi ignorada, negligenciada, sabotada, violentada em muitas formas pelo institucionalismo religioso? Foi sim! Disso não tenho dúvidas!
Mas Jesus não nos sabotou! E ele viveu aqui entre nós como homem, não como mulher! As vezes penso que a gente se concentra demais na INSTITUIÇÃO e se esquece que o Cristianismo é libertador, é libertário, valoriza o ser humano, seja homem, seja mulher. E como as mulheres foram libertadas e libertárias em seu ministério! Isso sim é teologia bíblica!
Eu tenho uma bronca gratuita com a Teologia Sistemática porque muitas vezes é ela quem mantém de pé esta estrutura institucional perversa. Daí as teólogas feministas de segmento sistemático descerem a lenha no sistema, e estão cobertas de razão. O dualismo fica muito mais delineado a partir das reflexões das teólogas feministas sistemáticas. Mas as teólogas biblistas têm um vínculo muito forte com a práxis pastoral, e o pastoreio se dá no campo, no meio do rebanho, no meio dos carrapichos, é coisa do chão, coisa da terra.
Nestas minhas andanças eu participei de grupos de estudos feministas de segmento antropológico e da teologia sistemática e também participei de grupos de estudos feministas de teologia bíblica e teologia pastoral. E afirmo: gosto mais destes 2 últimos. Estar no chão, com o pé na terra, lidando com gente que nada tem, me mostra o valor das pessoas, tanto de mulheres quanto de homens. Me faz querer estudar gênero para a libertação de ambos, pois no meio da miséria, a opressão é conjunta, a pobreza é uma só. E isso é práxis pastoral! Eu apoio, com todas as minhas forças, a luta das mulheres pastoras pelo reconhecimento de seus títulos e ministérios em nosso segmento religioso, mas como tenho mentalidade e experiência de missionária, vejo que o embargo que a INSTITUIÇÃO causa neste tipo de práxis pastoral das mulheres é bem menor. A instituição não consegue controlar a religiosidade popular, e a Bíblia está na mão do povo, e o povo é rebanho.
Sei que a luta feminista dentro da instituição é necessária, mas a pergunta que eu me faço muitas vezes é: que peso a INSTITUIÇÃO ocupa dentro do Reino de Deus! Este peso é justo? Será que vale a pena brigar por isso? Bem, essas são minhas crises pessoais, perguntas que ficam sem respostas ou que têm respostas que eu prefiro nem mencionar, e quando minhas colegas feministas lerem isso eu vou ser taxada como um Judas, rs.
Mas, por fim, uma coisa que, me parece, a gente esquece com muita facilidade: nossa latinidade!
Somos brasileiros, vivemos num continente latino. A cultura latina é altamente machista! A realidade feminista hoje na sociedade brasileira ainda é um sonho para muitas culturas de nosso continente (e ainda temos tanto a conquistar!). Eu não sei se podemos culpar as lideranças eclesiásticas por funcionarem como a sociedade funciona! A igreja é fruto do seu ambiente cultural, nasce na cultura e serve à cultura. No dia que a cultura mudar a igreja não terá dificuldade em mudar também, mas enquanto a sociedade legitima o androcentrismo, não sei se a igreja vai conseguir, vai tentar ou vai ter interesse de nadar contra a correnteza, creio que não, porque a igreja é instituição e instituição se encaixa no modelo da sociedade vigente. Fora da instituição conseguimos ser reacionários, mas na instituição somos engessados.
O que fazer então?
Bem, eu estou dando meu jeito: tentando não perder a ternura! Endurecendo sempre que necessário, mas sendo menos esquisofrênica, não acreditando em teoria da conspiração atrás de cada esquina. Isso me deixa bem livre, de olhos bem abertos e com sanidade para enxergar as pessoas dentro do todo. Enxergar os homens dentro da constituição do gênero masculino e as mulheres dentro da constituição do gênero feminino. Tento lembrar sempre que o ministério da Igreja é o da reconciliação e mulheres são melhores nisso do que os homens. No entanto, a proteção de um grupo faz parte da constituição do gênero masculino, e nisso eles são melhores que as mulheres. Precisamos uns dos outros e quando vejo o quanto o pastorado de uma instituição é pesado, sinceramente, prefiro ficar na religiosidade popular! Mas como não tenho qualquer chamado para ser pastora de igreja, mas sim professora e discipuladora, minha tendência é suavizar as coisas mesmo e colocar "minhocas" nas cabeças dos seminaristas.
Rodei, rodei e fiquei na mesma! Desculpa Rubinho! Mas faz parte.
Teólogo é uma raça que enrola!!! rsrs
Meu abraço pra vc!
Hay que endurecer, pero sin perder la ternura jamás!
submissão é missão de base [...] será que definições como essa não podem ser consideradas uma suavização [...] do conceito de submissão feminina na igreja por puro concordismo bíblico [...]?
Eu entendo o que você sugere. Tenho que concordar que em alguns casos é isso mesmo que acontece. Mas não em todos, e por incrível que pareça, em alguns casos, as gerações mais antigas dão mais valor à mulher. Neste exemplo do ancião, foi uma coisa tão bonita, pois era um pastor bem velhinho, que demonstrava uma gratidão e um reconhecimento tão grande pela participação das mulheres na estrutura da família e da igreja, e mostrava isso de forma tão sincera que eu achar que a fala dele seria conspiradora seria pura falta de juízo da minha parte.
Recentemente estive no culto de aniversário de 85 anos de idade do Jether Ramalho, um sociólogo importante para o diálogo sobre teologia da libertação nos círculos ecumênicos. Rubem Alves vestiu a toga do clero presbiteriano para pregar no aniversário do Jether! Foi histórico! 67 anos de casados Jether e Lucília! Que tributo lindo ele fez à esposa no dia do seu 85o. aniversário! Dessas cenas que não nos saem da cabeça e fazem a gente lembrar que o amor ainda é possível e o reconhecimento do valor de uma mulher na vida de alguém ainda existe!
Mas concordo que muitas vezes tal discurso é usado com o fim que vc menciona sim.
Será que a situação não é muito mais perversa do que apenas uma questão de auto-estima masculina?
Acontece aqui o mesmo caso. Há muitos casos em que a situação é perversa e tal discurso legitima esta perversidade sim, mas eu não consigo enxergar esta conspiração por todo lado não. Também não acredito na visão simplista de que se trata de questão de auto-estima masculina. Acredito sim, numa revisão de papéis, tanto masculino quanto feminino, dentro da sociedade latina, de matriz cultural totalmente machista, que está passando por uma mutação de velocidade alucinante e nem consegue tomar pé da quantidade de mudanças que ocorrem.
Uns dois anos atrás, estávamos num almoço de confraternização pelo aniversário do meu orientador. Conversa vai, conversa vem, eu falei que estava um pouco desapontada com a reação de algumas colegas. Eu fora nomeada para a comissão temática da revista de estudos de gênero que iria trazer, pela primeira vez em seus 12 anos de existência, uma edição sobre masculinidade. Eu sugeri que nós deixássemos que eles falassem sobre eles mesmos. Uma edição da revista feminista, falando de masculinidade, com todos os articulistas homens. Seria ousado, inovador e solidário. Mas minha sugestão foi reprovada veementemente. Concluí a fala dizendo ao mestre em tom de tristeza: "eu acho que não sou uma feminista muito militante". Meu professor olhou pra mim, deu um sorriso daqueles que só ele sabe dar e falou: "militante você é, você só não é chata". E continuou dando aquele sorriso schwantiano.
Isso me fez pensar em muitas das coisas que acabei desenvolvendo neste texto.
A mulher foi ignorada, negligenciada, sabotada, violentada em muitas formas pelo institucionalismo religioso? Foi sim! Disso não tenho dúvidas!
Mas Jesus não nos sabotou! E ele viveu aqui entre nós como homem, não como mulher! As vezes penso que a gente se concentra demais na INSTITUIÇÃO e se esquece que o Cristianismo é libertador, é libertário, valoriza o ser humano, seja homem, seja mulher. E como as mulheres foram libertadas e libertárias em seu ministério! Isso sim é teologia bíblica!
Eu tenho uma bronca gratuita com a Teologia Sistemática porque muitas vezes é ela quem mantém de pé esta estrutura institucional perversa. Daí as teólogas feministas de segmento sistemático descerem a lenha no sistema, e estão cobertas de razão. O dualismo fica muito mais delineado a partir das reflexões das teólogas feministas sistemáticas. Mas as teólogas biblistas têm um vínculo muito forte com a práxis pastoral, e o pastoreio se dá no campo, no meio do rebanho, no meio dos carrapichos, é coisa do chão, coisa da terra.
Nestas minhas andanças eu participei de grupos de estudos feministas de segmento antropológico e da teologia sistemática e também participei de grupos de estudos feministas de teologia bíblica e teologia pastoral. E afirmo: gosto mais destes 2 últimos. Estar no chão, com o pé na terra, lidando com gente que nada tem, me mostra o valor das pessoas, tanto de mulheres quanto de homens. Me faz querer estudar gênero para a libertação de ambos, pois no meio da miséria, a opressão é conjunta, a pobreza é uma só. E isso é práxis pastoral! Eu apoio, com todas as minhas forças, a luta das mulheres pastoras pelo reconhecimento de seus títulos e ministérios em nosso segmento religioso, mas como tenho mentalidade e experiência de missionária, vejo que o embargo que a INSTITUIÇÃO causa neste tipo de práxis pastoral das mulheres é bem menor. A instituição não consegue controlar a religiosidade popular, e a Bíblia está na mão do povo, e o povo é rebanho.
Sei que a luta feminista dentro da instituição é necessária, mas a pergunta que eu me faço muitas vezes é: que peso a INSTITUIÇÃO ocupa dentro do Reino de Deus! Este peso é justo? Será que vale a pena brigar por isso? Bem, essas são minhas crises pessoais, perguntas que ficam sem respostas ou que têm respostas que eu prefiro nem mencionar, e quando minhas colegas feministas lerem isso eu vou ser taxada como um Judas, rs.
Mas, por fim, uma coisa que, me parece, a gente esquece com muita facilidade: nossa latinidade!
Somos brasileiros, vivemos num continente latino. A cultura latina é altamente machista! A realidade feminista hoje na sociedade brasileira ainda é um sonho para muitas culturas de nosso continente (e ainda temos tanto a conquistar!). Eu não sei se podemos culpar as lideranças eclesiásticas por funcionarem como a sociedade funciona! A igreja é fruto do seu ambiente cultural, nasce na cultura e serve à cultura. No dia que a cultura mudar a igreja não terá dificuldade em mudar também, mas enquanto a sociedade legitima o androcentrismo, não sei se a igreja vai conseguir, vai tentar ou vai ter interesse de nadar contra a correnteza, creio que não, porque a igreja é instituição e instituição se encaixa no modelo da sociedade vigente. Fora da instituição conseguimos ser reacionários, mas na instituição somos engessados.
O que fazer então?
Bem, eu estou dando meu jeito: tentando não perder a ternura! Endurecendo sempre que necessário, mas sendo menos esquisofrênica, não acreditando em teoria da conspiração atrás de cada esquina. Isso me deixa bem livre, de olhos bem abertos e com sanidade para enxergar as pessoas dentro do todo. Enxergar os homens dentro da constituição do gênero masculino e as mulheres dentro da constituição do gênero feminino. Tento lembrar sempre que o ministério da Igreja é o da reconciliação e mulheres são melhores nisso do que os homens. No entanto, a proteção de um grupo faz parte da constituição do gênero masculino, e nisso eles são melhores que as mulheres. Precisamos uns dos outros e quando vejo o quanto o pastorado de uma instituição é pesado, sinceramente, prefiro ficar na religiosidade popular! Mas como não tenho qualquer chamado para ser pastora de igreja, mas sim professora e discipuladora, minha tendência é suavizar as coisas mesmo e colocar "minhocas" nas cabeças dos seminaristas.
Rodei, rodei e fiquei na mesma! Desculpa Rubinho! Mas faz parte.
Teólogo é uma raça que enrola!!! rsrs
Meu abraço pra vc!
Hay que endurecer, pero sin perder la ternura jamás!
Comentários
Beijos!!!
Obrigado por incluir um link para o meu blog. Estou sem poder postar. Levei esse negócio de férias ao extremo. E to gostando disso. Mas preciso reagir. Beijos.