Asas do Condor

Lília Dias Marianno
Quito, 22/05/2008

Quito... experiência inesquecível.
Junto com o povo latino da Bíblia
por poucos, mas valorosos instantes
dei-me ao direito de entregar-me
a um novo momento de contemplação,
como que a inaugurar um novo tempo de vida.

Um certo aviador me falara:
"Olha! Quito é cheia de altos e baixos".
Sim! Muitas ladeiras!
Rodeada de vulcões,
só se tem uma noção mais justa do que ela é
quando se está de cima!

Minha parte favorita em Sociedade dos Poetas Mortos
é o inesquecível momento em que o professor
faz com que todos seus alunos subam nas mesas
e olhem para a classe de cima para baixo .
ele disse: "o mundo é totalmente diferente
quando se olha de cima".
Desde que vi esta cena, tantos anos atrás
desenvolvi uma paixão pela montanha como nunca antes
e o mirante da Rio-Petrópolis
é o lugar onde grito: Jerônimo!

Quito é uma cidade assim,
que nos obriga a olhar para baixo
apoiados nas asas do Condor
ave extinta, típica dos Andes
cordilheira que hospeda esta cidade singular.


É certo que o mundo sofre
e alguns Guayasamins gastam a vida
nos lembrando desta dor.
Dolor de las madres sufrientes,
dolor de las familias apartadas ,
dolor de los que siguen amando
los que con los vivos ya no viven más,
dolor de los pobres y miserables...
Dores trazidas à memória
em nossos encontros matinais com Jó.

Mas Intiñan me trouxe tanta alegria!
Esses povos de culturas solares
que passavam seu tempo olhando para o sol,
que professores!
Me recuperou a esperança no amor entre família
na bondade compartilhada entre os que se amam
animais da Amazônia me ensinaram
sobre a fragilidade e a força
daqueles seres cuja profissão
é apenas cumprir o ciclo da vida.
nenhuma preocupação mais!

Relógios solares,
ovos equilibrados na cabeça de um prego,
e os rodamoinhos nas águas,
mudando de movimento se pisamos no norte ou no sul
Sim! A metade do mundo me encantou,
exalando a sabedoria dos antigos
que viviam de forma tão simples e essencial:
A comunhão entre os que se amam
e o curso natural da vida!
Olhavam para o alto!
Seus olhos, fitos no sol, isso fazia toda a diferença.

Ah! Estrela da Manhã, sempre presente!
Sol da minha vida e razão do meu viver!
Aqui do alto ou enquanto lá embaixo
nas descidas e subidas do tobogã da vida
esta vida complicadamente bela que me presenteaste
Para tornar-me o ser complexamente simples que eu sou
Não tenho dúvidas: Tu estás comigo!
O vento que bate no meu rosto
neste vôo magnífico sobre as asas do condor
Deixam meus olhos molhados
por sentir aquele alegre frio na barriga,
friozinho gostoso
de que jamais verei o mundo do mesmo jeito outra vez!

Comentários

Anônimo disse…
O que fez comigo “Asas do Condor” senão o que a citação “o mundo é totalmente diferente quando se olha de cima.", do filme “Sociedade dos poetas mortos” fez com os alunos daquela escola.
Tua poesia me revelou que existe dentro de ti um outro mundo, um mundo onde os minutos se transformam em horas, as horas em anos, os anos em séculos, a vida em eternidade.
Mesmo estando do alto, nas asas do condor, extasiada com a beleza que teus olhos contemplaram não te esqueceste de que cada momento é único, não se repete mais. A consciência de que aquele momento não se repetirá mais te coloca ajoelhada ante Deus, o Criador de tudo que nos rodeia.
Que Deus continue te abençoando e aumentando o teu desejo de criar.
Teu aluno, Zé de Moraes
Lília Marianno disse…
Obrigada Moraes,pelasbelas palavras. Quito ajuda a gente e vc está certo quanto aos minutos, horas, anos... rsrs um abraço.

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