Tapete de Nuvens

Lilia Dias Marianno
Em 24/05/2008 (Entre Quito e Panamá)

Estou voando sobre um grande tapete de nuvens.
Sua brancura em contraste com o azul do céu
me lembra: estou alto, muito alto.
O horizonte mudou de namorada
Não se deixa mais beijar pelas águas do oceano
Apaixonou-se pelo oceano de fumaça
a quem beija demoradamente
A paz deste oceano branco me transporta
Para um mundo perfeito onde não há dor
Diferente daquele lá de baixo.
Pobre mundo sofredor! Tão belo e tão conturbado!

Nuvens... nuvens densas e esparsas
Tranqüilas ou turbulentas
Vocês me lembram os momentos da vida
Tão belos e ternos! Tão turvos e densos
Momentos que, assim como vocês, eles passam
Momentos pelos quais, às vezes quem passa sou eu

Como floquinhos de algodão
Os filhotinhos de nuvens bailam diante dos meus olhos
Acariciando minha alma risonha com o espetáculo
Essas nuvenzinhas são aprendizes,
Nem sempre a coreografia sai perfeita
E elas me deixam ver um pouquinho do que deviam esconder
Criancinhas sapecas que me mostram o continente
A linha sinuosa da costa
E os rios gentis que pedem licença para ali desaguar
E como num chamar da grande nuvem mãe
Os floquinhos se reagrupam rapidamente
Para reconstruir meu tapete de nuvens

Quando os filhotinhos de nuvens me deixaram ver a terra
Um grande buraco no céu se estabeleceu.
Tive uma curiosidade quase infantil de chegar bem na beirinha
Para olhar lá pra baixo
Mas a sabedoria schwantiana ressoou em meus ouvidos:
“menina, tu gostas de olhar o buraco...
Tens que olhar para cima, para o horizonte
É no horizonte que está a esperança”

Sol, céu e nuvens
Flocos de neve e um azul intenso
são os atores deste espetáculo maravilhoso
Indescritível...

Tão indescritível que me sinto uma tola
Nesta tarefa impossível de definir
Um frescor de alma
Uma alegria das veias
Um pulsar da mente
Um batimento de emoções
Um emocionar dos cabelos
Um escutar dos olhos
Um ver dos ouvidos
Que coisa mais inútil...

Sim, o céu é obra das Suas mãos
E é aqui que encontro paz no meu coração
Quero voar num nível mais alto
Obcecado pela grandeza do Criador
Com pés saltitantes de corças
Ou asas fortes de águia
Desprendido das tristezas da vida

As nuvens passam por baixo de mim
Só tenho relances do mundo lá em baixo
Mas aqui em cima meu coração entende
a ternura e a graça do Pai
Teimosia pura em encontrar bondade humana.
E quando alguém faz o bem a outro ser
Sorridente ela se satisfaz.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

7 parágrafos sobre a alteridade

A palavra de hoje é: descontextualização!

Subversão: o modo como entendo a submissão da mulher