La luna (ou Luar de Agosto)

Destranco a  fechadura da porta de casa
e sou assaltada pela claridade prateada
que invadiu minha sala escura
enquanto estive fora.

Mas de onde vem esta luz abusada
que capturou os desenhos esmerados
das grades da minha janela
e os espalhou sobre  meu canteiro de flores
e pelo chão da minha sala?

Ponho a cara na janela e alí está ela,
a culpada deste alvoroço luminoso
em plena noite amena de agosto: 
A lua! Graciosa e exibida,
debochada sorrindo pra mim.

Reparo bem,  veste modelito novo hoje à noite.
Parece que se aprontou para uma festa de casamento,
mas quer brilhar mais que a própria noiva.
Mas que assanhamento! Onde já se viu? 

Esse teu abuso ... ele  me cativa, lua assanhada.
De ti saem muitos raios, como se fosses um sol branco.
Te exibes para o Criador, eu sei.
E Ele para ti, sorri, prazeiroso
te deixando cada vez mais mal acostumada. 

Ah! lua faceira, arteira!  
És, de fato,  muito exibida
Vieste esbanjar teu esplendor divino,,
com este nada-discreto  vestido prata ofuscante,
bordado com estrelas fulgurantes.

Ficas radiante, risonha, brilhando diferente,
por certo,  muito consciente
de que és astro poderoso,
testemunha mais antiga que a criação do ser humano.

Mas tenho que concordar com Ele
Estás absurdamente bela,  num esplendor que nunca vi igual!
Em franco embate  com as mil luzes da cidade,
humilhaste  estas pobres lamparinas humanas,
incompetentes que são ao tentar te substituir.
Hoje tens o direito de ser bajulada!

Apaguei todas as luzes da casa para te contemplar.
Por longos minutos fiquei ali, te fitando, te sondando...
E satisfeita como o Criador, eu sorrio também.


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