ARGILA
De barro sem valor me fizeste,
assim vermelha, porosa, sem liga
mas com tua mão me modelaste
me dando forma com água da vida.
Depois de me esculpir,
sopraste em mim teu fôlego
Me fizeste carne mas me chamaste - alma
alma vivente posta em movimento
coreografia santa, bailarina, performática.
Fizeste-me esta carne-espiritual
que se move por uma única força: teu sopro.
É teu sopro que me ergue do chão
É teu sopro que me coloca de pé.
Teu sopro me põe a andar,
Teu sopro me faz prosseguir
Não retires de mim o teu sopro
senão imediatamente cairei
Se de mim o teu sopro se for
argila novamente serei.
Não retires de mim a tua água
Senão, aqui dentro, ressecarei
Se de mim tua água se for
como terra seca, racharei ...
Não retires de mim tua água
pois em poeira me tornarei
Se de mim tua água se for
pelo vento espalhada serei
Sem vestígio deixar
Sem existência a provar
Não retires de mim teu sopro
meu único sentido de existir.
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