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Mostrando postagens de 2008

A PARÁBOLA DAS SEIS FLORES

Esse texto foi meu discurso de paraninfa CIEM (29/11/2008). Um monte de gente pediu cópia, coloquei aqui para ficar mais fácil copiarem. Parabéns, flores: Ivonete, Luzimeire, Floriléa, Josiane, Conceição e Juliany! A PARÁBOLA DAS SEIS FLORES Reflexão em Ec. 3,1-11 Profa. Lília Dias Marianno O Senhor Criador, que fez o céu e a terra, a relva e os animais plantou neste mundo um lindo jardim. Vez ou outra o Criador re-inventa sua própria criação. E neste jardim chamado mundo, ele escolhe um cantinho, um canteiro especial para tratar de flores especiais. E foi assim, que um dia o Criador resolveu plantar 6 novas flores, 6 flores lindas, resolveu fazer uma experiência, tirou cada uma de um canto completamente diferente do jardim e começou a cultivá-las e tratar delas numa nova terra. A primeira delas (Ivonete) é uma flor resistente, suas sementes vem lá do interior das Minas Gerais, de Mantena, interior gostoso, de gente tradicional. A flor estranhou a fumaça da cidade, mais ain

Tapete de Nuvens

Lilia Dias Marianno Em 24/05/2008 (Entre Quito e Panamá) Estou voando sobre um grande tapete de nuvens. Sua brancura em contraste com o azul do céu me lembra: estou alto, muito alto. O horizonte mudou de namorada Não se deixa mais beijar pelas águas do oceano Apaixonou-se pelo oceano de fumaça a quem beija demoradamente A paz deste oceano branco me transporta Para um mundo perfeito onde não há dor Diferente daquele lá de baixo. Pobre mundo sofredor! Tão belo e tão conturbado! Nuvens... nuvens densas e esparsas Tranqüilas ou turbulentas Vocês me lembram os momentos da vida Tão belos e ternos! Tão turvos e densos Momentos que, assim como vocês, eles passam Momentos pelos quais, às vezes quem passa sou eu Como floquinhos de algodão Os filhotinhos de nuvens bailam diante dos meus olhos Acariciando minha alma risonha com o espetáculo Essas nuvenzinhas são aprendizes, Nem sempre a coreografia sai perfeita E elas me deixam ver um pouquinho do que deviam esconder Criancinhas sapecas que me mos

Asas do Condor

Lília Dias Marianno Quito, 22/05/2008 Quito... experiência inesquecível. Junto com o povo latino da Bíblia por poucos, mas valorosos instantes dei-me ao direito de entregar-me a um novo momento de contemplação, como que a inaugurar um novo tempo de vida. Um certo aviador me falara: "Olha! Quito é cheia de altos e baixos". Sim! Muitas ladeiras! Rodeada de vulcões, só se tem uma noção mais justa do que ela é quando se está de cima! Minha parte favorita em Sociedade dos Poetas Mortos é o inesquecível momento em que o professor faz com que todos seus alunos subam nas mesas e olhem para a classe de cima para baixo . ele disse: "o mundo é totalmente diferente quando se olha de cima". Desde que vi esta cena, tantos anos atrás desenvolvi uma paixão pela montanha como nunca antes e o mirante da Rio-Petrópolis é o lugar onde grito: Jerônimo! Quito é uma cidade assim, que nos obriga a olhar para baixo apoiados nas asas do Condor ave extinta, típica dos Andes cordilheira que ho

Batistas & Bíblia: uma conversa informal

Texto apresentado em painel no encontro de catequistas da CNBB em outubro de 2005. Publicado na íntegra em Cadernos da CNBB, n.91, São Paulo:Paulus, 2006. Lília Dias Marianno. Um cotidiano que já vem de quatro gerações Certa vez, uma mulher de origem batista e de condição muito pobre, contava com pouco mais de vinte anos quando começou a passar por sérias crises em seu casamento. Decidida, resolveu salvar sua união conjugal através daquilo que ela conhecia, de sua família e também dos irmãos de sua igreja, como culto doméstico. O culto doméstico deveria ser um momento diário em que, a família reunida, ocuparia algum tempo para a leitura e exposição do texto bíblico e para a oração. Mas o marido nunca estava presente, como fazer? Assim, a jovem senhora decidiu fazer o “culto doméstico” com sua filhinha de três anos. Para suprir a ausência de uma explanação do texto bíblico para uma criança tão pequena, a jovem senhora resolveu adotar o procedimento de fazer sua filhinha dec

Ética dos relacionamentos sob as lentes dos estudos de gênero

Esse é o texto da aula inaugural do curso de "Bíblia e Gênero" proferido em 30/03/2008 (reapresentado em 13/04/2008 na 2a.IB de Petrópolis). Profa.Lília Dias Marianno [1] 1. Enfoque de gênero: um jeito diferente de ler a Bíblia Desde o início da década de 90, quando o Projeto Genoma começou a intensificar as pesquisas sobre o código genético dos seres humanos, muitas informações novas sobre diferenças de gênero estão chegando ao nosso conhecimento diariamente. Isto porque pesquisadores do campo da medicina, da biologia, antropologia, psicologia e tantos outros campos de conhecimento estão conseguindo mapear melhor o funcionamento do cérebro humano. Tal mapeamento presta grande ajuda à empresas, por exemplo, quando se trata de aproveitamento do potencial de seus empregados. Equipes desportivas também já se utilizam bastante destes resultados. Por exemplo, já é estatisticamente comprovado que mulheres dirigem de forma mais prudente que os homens (até as seguradoras comprovam is

Enfie seus dedos aqui neste buraco entre minhas costelas

Neste último domingo nosso pastor pregou sobre o encontro de Tomé com Jesus depois da ressurreição, eu fiquei bastante pensativa sobre alguns detalhes. Ultimamente muitos estudantes de teologia andam meio perdidos entre a fé e a razão. Ouvi há pouco tempo de uma aluna o seguinte: "ah professora, a gente não quer ficar abalado mas fica". Na ocasião eu repliquei: o que nos abala não são as novas informações sobre uma velha teologia que não tínhamos acesso. O que nos abala é a fragilidade da nossa experiência com Deus. Nestes momentos o caminho não é questionar o conhecimento novo, o caminho é revisitar nossas experiências fundantes na fé cristã. Afinal, cremos em Deus por causa dos grandes milagres que Ele pode operar ou cremos nele pelo que Ele simplesmente é? Gosto de imaginar o seguinte: se a Bíblia não relatasse qualquer ato sobrenatural realizado pelas mãos divinas, ainda creríamos nEle com a mesma disposição? Por que somos tão dependentes destas manifestações sobrenat

E essa imagem toda esquisita aí em cima?

Eu sou meio fascinada por mapas. Quando encontrei este aí fiquei encantada! Penso que jamais teria a oportunidade de ver a Palestina sob este ângulo se não fossem os recursos de satélite e da net. Não é diferente? Olhar para a Palestina de cabeça para baixo! Mas por quê, cabeça para baixo? A terra não é redonda (ou ovalada)? Deveria ser possível enxergá-la sob todos os ângulos imagináveis, ao invés de nos limitarmos naquela projeção quadradinha que os atlas nos dão, não é mesmo? Eu quis colocar esta imagem aqui porque trabalhar com Bíblia requer um constante esforço de virar o texto de "cabeça para baixo", e trabalhar com Gênero também demanda o esforço de passar para o lado de lá, tentando enxergar as circunstâncias com o olhar do outro sujeito, com o olhar diferente do nosso. Fiquem aí com a Palestina de "pernas pro ar", pensando um pouquinho em como isso pode ser provocado na reflexão teológica, ok? P.S.: Vez ou outra eu troco este texto de lugar, retiro lá do f

Essa bondade no coração humano...

Meu contato com o mundo das artes sempre teve um caráter altamente teológico, não sei porquê. Desde as óperas no Teatro Municipal ou concertos diversos, tanto lá quanto em outras salas de música de câmara de nossa cidade e até cinema e exposições de pintura ou de outras naturezas, sempre me encontro refletindo sobre o contato do ser humano com Deus e com seu próximo nestas horas. Do fim da tarde até agora tive chance de assistir a três filmes que me fazem refletir muito sobre a condição humana. Todos três são versões cinematográficas de fatos da vida real. Um deles se chama "A dádiva de Nicholas", um menino de 7 anos que morre num atentado criminoso fora de seu país e, depois de diagnosticada a morte cerebral, seus pais têm que tomar a difícil decisão de doar seus órgãos, numa terra estranha, e isso acaba mexendo com toda a Itália, o país que na época tinha a menor taxa de doação de órgãos de toda a Europa. O segundo se chama "O gigante da planície", produção canade

Rebeca foi absolvida e a graça começou a ser entendida!

Essas minhas andanças por aí andam me proporcionando algumas surpresas. Neste último domingo estive numa igreja batista no interior da cidade de Nova Iguaçu. Meu desafio: lecionar para um público de umas 60 pessoas sobre Bíblia e Gênero, refletindo sobre Rebeca: divida entre 3 amores, a lição 4 da Palavra e Vida deste trimestre. [nos links aqui ao lado, vc tem acesso ao texto da lição e também ao roteiro de aula que segui com este grupo] No final da aula tivemos uma dramatização: o julgamento de Rebeca. Rebeca foi interrogada por um advogado de acusação e uma advogada de defesa, e como mulher e mãe, respondeu à todas as perguntas. O júri era o próprio público, que recebeu pequenas cédulas para votação secreta a respeito desta mãe que colocou seus 3 amores uns contra os outros, o marido e seus dois filhos e depois disso desapareceu da narrativa bíblica. INOCENTE ou CULPADA, apenas uma das respostas deveria ser escrita no papel. Uns minutos antes, um dos participantes do estudo me pergu

E essa imagem toda esquisita aí em cima?

Eu sou meio fascinada por mapas. Quando encontrei este aí fiquei encantada! Penso que jamais teria a oportunidade de ver a Palestina sob este ângulo se não fossem os recursos de satélite e da net. Não é diferente? Olhar para a Palestina de cabeça para baixo! Mas por quê, cabeça para baixo? A terra não é redonda (ou ovalada)? Deveria ser possível enxergá-la sob todos os ângulos imagináveis, ao invés de nos limitarmos naquela projeção quadradinha que os atlas nos dão, não é mesmo? Eu quis colocar esta imagem aqui porque trabalhar com Bíblia requer um constante esforço de virar o texto de "cabeça para baixo", e trabalhar com Gênero também demanda o esforço de passar para o lado de lá, tentando enxergar as circunstâncias com o olhar do outro sujeito, com o olhar diferente do nosso. Fiquem aí com a Palestina de "pernas pro ar", pensando um pouquinho em como isso pode ser provocado na reflexão teológica, ok? P.S.: Vez ou outra eu troco este texto de lugar, retiro lá do fu

Sexo, sexualidade e reflexão teológica (parte 2)

(continuação da postagem anterior) 3. Reflexão bíblico-teológica feminista latino-americana para o século XXI Em 2004, teólogas biblistas latino-americanas, assessoras de RIBLA [1] , se reuniram no Brasil para discussão das pautas hermenêuticas que norteiam a reflexão bíblico-teológica feminista. O objetivo era listar as prioridades e ênfases na reflexão teológica para que a hermenêutica bíblica feminista latino-americana continue seguindo seu caminho sem abandonar seus pilares, seus valores centrais, abrindo, porém, novos tópicos no debate de gênero, religião e teologia bíblica. Ali se reafirmam alguns paradigmas para a hermenêutica bíblica feminista latino-americana no despontar do séc. XXI [2] : a) A parcialidade interpretativa e a pluralidade de paradigmas é critério interpretativo em nossas abordagens; b) a hermenêutica feminista latino-americana é filha do movimento bíblico-teológico latino-americano e continua tendo como objetivo “a construção de relações justas e de superação d